Pintaria nesse agosto o quadro da tristeza,
Quando levou me triste o gerimum de setenta toneladas,
Quando não ia ter pesca na maré de Santo Amaro.
Agosto vem agora amargo,
Sem farinha torrada com melado de engenho,
sem o pagode do Bezerra, que entoava depois de um trago e outro.
Será sempre lembrado:
Nada melhor para o cabelo que Banha Zezé
e nenhum lugar para comprar é melhor que Mercado de São José.
No Mercado era sempre uma festa,
Compra ração, farinha da fina e mateiga só da boa,
-Cuca!!
Era assim que me chamava pra dar doce ou almoço.
_Dinhaa!!
Chamava a minha vó.
E assim contava dos passeios em Campina Grande,
Do namoro vigiado, da viagem da Maria Fumaça.
Agosto me levou a lembrança mais pura da minha infância,
Me levou o colo calejado pela vida,
As palavras firmes e os conselhos de quem já tinha vivido muito,
mas não queria que vivessemos aquilo.
Ah! As histórias da Marinha,
O trabalho na caldeira do navio,
A trajetória no Rio, no Canta Galo onde chegou,
Depois de sair pra comprar cigarros em Recife,
Quinze anos depois voltou pra casa, pra mulher que o esperava,
Os filhos já crescidos no quintal,
Com a carteira de cigarros na mão bateu na porta e entrou,
como se tivessem passado apenas duas horas.
Casou os filhos, teve outros e também outras mulheres,
Sempre foi bohêmio,
-A noite é para dormir e o dia para curtir.
Do seu jeito amava a vida, os filhos e a cachaça.
Era bem humorado, mas era bruto também,
Contava histórias, contava causos ( a perna cabeluda), criava casos também,
Mas sempre foi respeitado era BC de Araújo.
Alagoano conhecia o Recife como a palma da sua mão (pequena).
Toda igreja, toda praça, Entroncamento, Chora Menino, Arsenal,
Penha, Rosário, Carmo, e suas histórias também.
Conhecia muito, de tudo ele sabia um pouco;
De medicina, de trabalho, encanação, mecânico e choffer de profissão.
Sempre me lembrarei dele quando for à Casa Amarela,
Ao Mercado Público, ao Centro do Recife sua paixão,
À Camaragibe,`à Vitória de Santo Antão.
Nunca esquecerei esse tempo lindo que vivi,
Do tempo que esse agosto interrompeu,
Agora já não existirá o contador, mas seus contos sim,
Não existirá o trabalhador, mas sim o seu trabalho.
Não posso mais ter o colo do meu avô,
Mais nunca esquecerei seu Braulio.
Ana Elizabete Barbosa
Braulio Correia de Araújo, era BC de Araújo cheio de cachaça, " Vou apertarrrrrrrr"