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sexta-feira, 21 de março de 2014

Mel a Nina




Sou da cor do café que tomas
Trago no as marcas do sabor
Do açúcar amargando a dor
Da minha terra a lembrança
Do cárcere nada tenho pra contar

Não vivo de desesperança
Da tua falta de memória
Vivo do que plantei e sou
Construindo a minha história

Muito prazer eu sou negra
Sou descendente de Luanda
Não vim ao Brasil  a passeio
Mas hoje sou produto do meio

Sou filha nascida nesse chão
Tenho aqui meu o meu direito
Não estou pedindo sua tolerância
Me respeite eu sou seu irmão preto. 

Do teu racismo tenho nojo
Da desinformação eu tenho pena
A tua formação eu respeito
A falta de educação te condena

Só te digo uma coisa amigo
Um dia nascerão os teus filhos
Verás que nesse berço miscigenado 
Logo logo terás um negro nos braços. 


Ana Elizabete Barbosa

Cabocla




cabocla de pena no meio da mata
qual é o teu nome 
É raio de luz que queima os olhos
Inflama quem encara
Sacia quem desvenda
Cabocla de pena qual é o teu segredo
Andar pela mata, encarando meu medo
Cabocla de pena me diz quem te ama
Aquele que não me conhece, mas em seu coração me chama
Cabocla de pena quem é que tu amas 
Amo a todos que respiram,
Me diz quem tu és, cabocla de pena filha dos pajés
Eu sou todas em mim, sou guerreira, sou eu mesma, eu sou curumim. 
Cabocla de Pena linda morena, quem não sabe quem é ela
É a menina de fogo, que queima em brasa, é Jaci menina é  cobra coral
Sete flechas ela tem, sete cocares para enfeitar, colares, pulseiras, fogueira, ela chega pra dançar, 
Ela é feiticeira, é xamã, 
É filha da mata, protegida de Tupã. 


Ana Elizabete Barbosa

terça-feira, 18 de março de 2014

Pai Nosso



Pai nosso que estás no céu,
Onde estás que não te vejo
Tantas misérias nesse mundo
Como podes permitir que assim seja
Se somos todos filhos teu,
Todos somos irmãos
Pai nosso porque uns padecem fome
E outros desperdiçam o pão,
Tin dom
Tim dom
-Maldita campainha que soa nessa hora
Quem és, que desejas minha senhora?
-Sou uma pobre velha solitária
Desejo apenas um pão e um pouco de água
- Onde já se viu, na sua idade esmolar
Pegue sua aposentaria vá pra casa descansar
Interrompeu a minha prece, onde esse mundo vai parar

Pai nosso se estás aí, me escute
Desculpe a interrupção, se soubesse que era bobagem
Não tinha atendido não,
Me responda por favor não me deixe angustiado
Porque tanta guerra, tantos sonhos destroçados
O mundo não tem tolerância, Pai me faça ouvir
O que posso fazer para acabar com essa violência
Que o mundo vive aqui, é mais que uma disputa
É mais que indignação, a revolta do mundo
Destrói cada dia mais uma nação.
Trimm trimmm
Droga de telefone que toca o tempo todo sem parar
Quem interrompe esse momento ?
- Alô filho, sou eu, estou precisando de você
- Como ousa me ligar, depois de tudo que fez acha que vou lhe ajudar
Procure outro otário, daqui nada vai levar.

Pai nosso onde estás que não respondes
Quero ouvir a tua voz, quero te encontrar
Quero ser teu ajudador, tenha misericórdia
De mim, do mundo e dê as caras, como pode
Dizer que ouve a todos, que está sempre ao meu lado
Já vi que não adianta orar, o Senhor vai sempre ficar calado.
Acho até que concorda com tanta intolerância
Será que apoia a violência como controle social
Será mesmo que acreditar em sua palavra vale a pena
Quem é que já teve alguma resposta sua
A quem se revelou que a mim não se revela
Pai nosso que foi que eu fiz pra viver nessa mazela.
-Pai olha a minha tarefa da escola, que lindo desenho que eu fiz.
-Sai daqui menino, tá vendo que estou orando
Estou ocupado, não tenho tempo pra você
Vá brincar, vá arrumar o que fazer.
Aliás eu também vou arrumar o que fazer
Esse negócio de fazer evangelho
Orar não resolve nada.
Até um dia Pai que está aí em um céu descansando
Enquanto o mundo busca respostas.

Ana Elizabete Barbosa / desespero de um louco

segunda-feira, 17 de março de 2014

Verdeletrando



Na boca da mata
Matintaperê já falou
Pra quê tanto ouro no rio
Se mercurio tão frio já matou
Aquela negra corrente de  azul
No infinito não mais correrá

Cadê minha mata
Que ouro não compra
Na fotografia ficou
O verde espalhado
O ouro no mato
Amarelo escuro se pinta
Azul  no horizonte se finda
A tela no fundo do quarto
Eu guardo pra não esquecer
Que o amarelo do ouro
Só dentro do azul
Faz o verde viver.

Ana Elizabete Barbosa

Laranjas em Poesia



Fecho os olhos e contemplo
Tão sol o amarelo a brilhar
Poente esse dia tão claro
O Rubor da bela tarde
O céu vivo querendo rasgar 

Por trás da escura montanha 
Laranja se fez a boca da noite
Pinta a  aurora nos olhos meus
O colorido breve encontro 
Das cores iluminadas do sol
Com as rubras nuvens no ar
Compondo em laranjas telas
Para minha aquarela poetizar. 

Ana Elizabete Barbosa 

Preto no Branco



DO ENCONTRO DA NEGRA NOITE ESCURA
COM O BRANCO LUAR
EU NASCI ASSIM
MADRUGADA TÃO CINZA, TÃO NUA
NO MEIO DESSE LUGAR

QUANDO PRATA REFLETIDA
JOGO NA AMARELA AREIA
BRUMA DO MAR
PINCEIS, ÁGUA, TELA, TINTA MENINA
VAMOS BRINCAR

ANA ELIZABETE BARBOSA





sexta-feira, 14 de março de 2014

Salve Esmeralda Cigana




Filha da Terra, Milagre da Vida


Eu gosto mesmo é de cultura
Gosto de cultuar essa beleza
Amo aquilo que dá na terra
Presentes da mãe natureza

Recebo aquilo que é natural
Banho de rio, banho de mar
Ando descalça, piso na terra
Lua cheia, ouço o vento cantar

Eu gosto de coisa viva vibrante
De olhar nos olhos do semelhante
Sentir o frio sentir o fogo queimar
Dançar com a chuva e com ela cantar

Eu sou viva nas mãos da mãe natureza
Quem chora e pede proteção a Deusa
Que agradece pelo milagre no meu ser
Eu sou filha da terra sou alegria de viver.

Meu eu cigana luz na escuridão
Abraço que cura qualquer solidão
Pela força que gera vida sou guiada
Sou menina, sou faceira, sou a cigana Esmeralda



Ana Elizabete Barbosa

Menina do Mar







Ela é mistério é magia
É fogo é  luz que irradia
Não pode ser domada
Jamais será desvendada
Quem pode ajuizar de si
Só eles poetas e os loucos
Em seu coração compreendem
Aquilo que o mundo não entende
Nesta busca incessante
Teus mistérios conhecer
E quem sabe nesse barco lábios riso
Viajar para o desconhecido
Afim de saber quem é você

Ana Elizabete Barbosa

quarta-feira, 12 de março de 2014

Quarta-feira Não é de Cinzas


Olinda começou a festa
Ninguém me segura
Não vou mais parar

Hoje tem boizinho, frevo
Coco de roda, maracatu
Tem festa na ladeira
É quarta-feira eu vou pra lá
Quero ver segura a coisa
desfilar nas outras,
eu vou frevar, 
De ingrata a quarta não tem nada
Menina é hora de aproveitar
A noite tem Recife antigo
Vou dar castigo a sapatilha
Ela vai ficar na estrada
Não quero nada, até o amanhecer
Vou juntar a minha turma
Eu sou malunga quero dançar

Ao som de Nação Zumbi de Nena Queiroga
Eu vou ferver
Quero nem saber da hora,
Não me chame agora
 Vou aproveitar
Carnaval tá terminando e eu vou sorrindo só pra lhe dizer
Ano que vem tem mais, segura rapaz, eu quero lhe rever.
Vou guardar a fantasia, essa alegria vai contagiar
Vem pra Pernambuco vem, 
Menino vem que tem, 
Prepara o ano inteiro
Vem pra Pernambuco vem, 
Menino vem que tem,
Tem festa em fevereiro. 

Ana Elizabete Barbosa / Frevo

Dedicado a Gilson Araújo ( Bit bit) no carnaval de 2014