DEIXA QUE EU TE CONTE: UM CONTO DE CARNAVAL
A
FESTA
Tão bela estava a festa,
Balões, confetes, lança perfume no ar,
Máscaras, música, poesia, também serpentina,
E no meio do salão, o pierrô e a colombina.
O inconstante olhar da messalina,
Achou vagando no meio da multidão
O pequeno arlequim com sua arlequina,
Incomodou lhe o sorriso da inocente menina,
Que percebeu ainda dançando,
Ao acender das luzes, quando a festa já era finda,
Que o pierrô sozinho chorava,
Pois cumpria sua sina,
Abandonado mais uma vez pela sua colombina.
Abraçada ao seu par, deixava contente o salão,
Tão sorridente e assim,
Não espera jamais saber, o que pretendia seu arlequim.
Matreiro, de olhar fagueiro, apaixonado,
Beijou no rosto a sua menina, saiu dançando, andando
ligeiro,
Olhando de lado, procurando a tal colombina.
E nesse mesmo carnaval,
Foi que ascendeu o fogo do palhaço pela nobre bailarina.
Mesmo sendo bobo, sendo boneco,
Fez com gosto por três dias seus caprichos,
Coloriu seus encantos, e deixou preto no branco,
Jamais esperou derramar o pranto,
Por ela a quem amou,
Mal sabe o sandeu, que ignóbeis ilusões cultiva,
A messalina segue cantando,
Entre saltos e ponteiras, deixa um em cada esquina,
Louco pelo seu veneno, pelo seu doce olhar de bailarina.
O pierrô nada pode fazer,
Para sustentar o seu amor,
Para ela a festa termina na conquista,
É mulher de pouco valor,
Não sabe o que amar a triste mariposa,
Que prometeu do arlequim se tornar esposa.
Pobre homem, ingênuo palhaço,
Da vida não entende a não ser do seu embaraço.
Trocou o perfume pelo aroma,
Apostou e perdeu,
Quem vive de festa, o amor sempre testa,
Mas não escolhe o seu.
O pobre néscio, que agora era bicho,
Teve seu amor posto no lixo,
Por aquela, que ele se apaixonou.
Cessaram os clarins, a noite já não tinha tambor,
Recolheram as máscaras, todas, menos a negra,
Que o pierrô usou,
Agora aquela antes molhada pelo noivo,
Agora era usada também pelo bobo,
Que a colombina enganou.
FOI
NO CARNAVAL QUE PASSOU
Passou-se o carnaval, porém ela ainda brilha,
Linda estonteante, tão mulher, tão menina,
A tão doce e igualmente malvada colombina.
A música já não toca,
A festa chegou ao fim,
Mais um ano se passou, e assim como os dias já eram três,
A cada ano se renova na lembrança a dor,
A triste marcha do arlequim.
Escondido pela negra máscara do tempo
Propondo ilusões, caminhando sobre confetes,
As lagrimas lhe rolam, a cada festa que termina.
Do outro lado chora, seus apelos
Enquanto a vida passa,
Entre nuvens e novelos,
Aquela que não foi amada,
Que não foi mulher,
A quem a vida puniu por não ser tão fina,
Por não ver maldade em qualquer,
A pequena arlequina.
Ela que achou que poderia.
Viver com tal ninharia,
Com migalhas de amor,
Não viu nem mesmo graça,
Na negra máscara, do grande pierrô.
Sorri colombina, pra tristeza do arlequim,
Chora, chora arlequina por que a vida é assim,
Vaga pierrô, sozinho com seu pranto,
Esperando a volta da sua amada, ainda que seja por
encanto.
Amarga injusta, ilusão cruel,
Quem dera a arlequina hoje, esquecer o seu papel,
Poder viver de magia, alegrar de confetes seu nebuloso
dia.
Vive triste a pequenina, por não ter o que fazer,
Não sabe a menina, para que está a viver.
Se o amor que lhe fascina,
Seu pequeno arlequim
Ainda morre de amor pela colombina,
Nem sabe que ela está ali.
E EM
OUTROS CARNAVAIS
Soam os clarins, tocam os tambores silenciosos,
A festa mais uma vez reinicia,
Mais um carnaval que chegou,
Brincam os quatro no mesmo baile,
Nessa irreal desventura,
A messalina na incessante procura,
Por bobos e de suas aventuras.
O pierrô, mascarado, solitário, ilhado,
Levado pelo som dança bêbado fora do tom,
Esquecido no salão;
O arlequim palhaço, bobo de agora,
Uma lágrima negra, hoje no seu rosto rola,
Ainda lembra-se do seu amor de outrora,
Pela bela bailarina ele ainda chora.
A pequena arlequina saiu do jardim
Triste embora contente vive a cantar um frevo que fala
assim:
Para
quem interessar saber a história irreal, desse amor sem ideal
Um pierrô, apaixonado,
Com sua amada esta dançando,
Perdeu se pelo olhar, perdeu lhe por encanto.
O arlequim se achando esperto,
Aquela moça atraiu,
Com piruetas, passos loucos,
Como ninguém nunca viu.
A colombina sem princípios,
Um por outro ela trocou,
Deixou infeliz a arlequina,
Que tão triste a tal menina,
Pelo seu amor chorou.
O coração da messalina,
Nunca, se apaixonou,
Deixou também o arlequim, que seu amor tocou,
A arlequina não se importa,
De tão triste assim viver,
Vê o seu passado triste, mas o seu futuro existe,
E o arlequim não pode ver.
O bobo fica lá se lamentando,
A bailarina só dançando,
O pierrô vive assistindo
A pequena arlequina que agora está cantando.
A máscara embora negra,
Hoje esta enfeitando, a face do arlequim que vive
chorando.
O carnaval agora vai,
Mais um ano se passou,
E o povo ainda chora, quando escuta nessa hora,
Aquela linda historia,
A história desse amor.